sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A M O R

PRA VOCÊ GUARDEI O AMOR QUE NUNCA PUDE DAR

              Talvez você já se sentiu assim, amando loucamente alguém, tanto amor que não consegue se ver sem a pessoa, e se ela for embora , você tem certeza de que sua vida terá fim, foram feitos um para o outro... De repente, o fim do relacionamento acontece, você chora, sente o “órgão” coração doer, sufoca de lágrimas, é definitivamente o seu fim, de hoje você não passa, já tentou tudo, igreja, bebida, até trabalho feito, se perdeu em tanto sentir, e quando tudo já estava perdido eis que aparece essa pessoa tão diferente da outra, forte, centrada, olhos ... Esta amando outra vez, agora sim é de verdade, tanto amor que não consegue se ver sem a pessoa, e se ela for embora , você tem certeza de que sua vida terá fim, foram feitos um para o outro...
Aqui semelhanças não são coincidências.  Mas se é assim, então o que é o amor? Como definí-lo? Como compreendê-lo? Amor tem que ser sempre erótico? E possível sexo sem amor?
             Essas questões e suas respostas ultrapassam o tempo.
 Na mitologia grega, “Eros” é o deus do amor, em o “Banquete” Platão elabora um tratado sobre o amor, já no livro ‘‘Pequeno Tratado das Grandes Virtudes’’ o filósofo André Comte-Sponville, descreve o que seria as três espécies de amor.
             Eros é o amor que brota do desejo, da falta, da carência. O amor está sempre procurando se preencher, está em uma busca apaixonada pelo outro, querendo fundir-se em uma só pessoa. Esse amor, que tem um caráter fortemente passional, projeta-se como um desejo de integrar-se, unir-se, tomar posse do outro. E arrebatado, compulsivo e perturbador, porque pode nos tirar do eixo da racionalidade. É um amor que sofre que se desespera que está sempre carente, quando Eros consegue o objeto almejado, ele perde a força, esvai-se de sua intensidade, até o desinteresse e o tédio.
             Philia vem do grego e quer dizer, literalmente, amizade. É um amor mais alegre, mais companheiro; não é amor de falta, de carência, de sofrimento. Esse é o amor que fica, quando fica, quando a paixão acaba entre os casais.   O amor como Philia é compromisso a longo prazo, é a capacidade de assumir responsabilidades em relação ao outro que pode envolver a doação de si e a superação do egoísmo. A relação sexual pode estar presente neste amor, entre casais, mais não é condição necessária, por que esse amor pode ser entre irmãos, entre pais e filhos, entre amigos íntimos.
             Ágape é um amor ainda mais nobre, transcende completamente todo o beneficio próprio, não tem nenhum resquício erótico e nenhuma seletividade. É o que o cristianismo chama de caridade. Caridade é uma palavra que foi muito distorcida em nossa cultura – reduzida que foi a ‘‘dar esmolas’’ ou ‘‘ser bonzinho’’. Mas o sentido do amor ágape e o de amar instintivamente a humanidade, não apenas os que estão próximos, chegando à capacidade de amar os próprios inimigos. É um amor que não procura para si nenhuma vantagem, a satisfação de nenhum desejo ou carência, e vai até o sacrifício de si, por qualquer outro ser humano. Não é um gostar especifico de pessoas particulares, mas um amor universal por todas as pessoas.
            Seja Eros, Philia ou Ágape, o mais nobre ou o mais profano, o importante é ter sentido, é ter aproveitado o tempo que durou, afinal, amores vão e vem, uns ficam mais tempo que outros alguns são eternos. Entender o que se passa é necessário, sentir o amor é saber aproveitar o tempo.
            Que seja eterno enquanto dure, já dizia o poeta. Tudo ao seu tempo, nem menos nem mais, somente do jeito que era pra ser.

 



Comte-Sponville, André - Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, Ed. Presença, Lisboa, 1995
Platão - O Banquete. Lisboa. Edições 70. 1991