ALGUNS EXERCÍCIOS DE FOTOGRAFIA ( no curso de artes visuais, oferecido pelo PARFOR, em parceria com a Univille e Unerj)
Antes de mais nada, é bom ter contato com a máquina, e que máquina... Tenho que dividir meus exercícios de fotografia. É quase uma obrigação.
PRIMEIRO EXERCÍCIO: Andar pelo espaço e fotografar o que encontramos. Experimentar a máquina. Brincar de fotografar sério.
Aqui uma foto pensada. Antes do registro, andei e visuailzei o que poderia se transformar em foto. Depois cliquei!
Imagens que gostei de fazer...
SEGUNDO EXERCÍCIO: Neste, a foto foi feita no mesmo instante, é só uma questão de regular a máquina.
TERCEIRO EXERCÍCIO
PROFUNDIDADE DE CAMPO :É um efeito na fotografia que significa até que ponto os objetos que estão mais ou menos perto do plano de foco aparentam estar nítidos, e não desfocados. Na fotografia existe uma regra que diz: Quanto menor a abertura do diafragma , maior será sua profundidade de campo, e quanto maior a abertura do diafragma menor será sua profundidade de campo, ou seja, o objeto a ser fotografado estará em foco, mas todo o resto será desfocado. A escala do diafragma que controla a quantidade de luz é composta de números que significam um ponto ou até meio ponto de luz.
QUARTO EXERCÍCIO: Fazia tempo que eu não entrava num estúdio fotográfico. E quando entrei tive a oportunidade de um exercício fantástico. Escolher uma obra de arte e reproduzí-la em fotografia. Eis minha arte:
Usei Fábio Klement como modelo no quadro de Franscisco Goya (1808), "Desastres da Guerra", quadro n.39 - A pintura representa a dor do ser humano.
Fábio, também realizou o exercício e usou a mim como inspiração (Rsss). Utilizou a obra Marilyn Monroe de Andy Warhol .
Aos amigos, que visitam minha página todos os dias em busca de alimento cultural, até agora em forma de reflexão, uma grande novidade. Vou repartir com vocês minha construção artística, o caminho longo que irei percorrer da ideia, do planejamento, concepção, até a realização de uma Instalação.
Claro que não irei caminhar sozinha, tenho como orientadora deste trabalho, uma professora que admiro, pelo conhecimento que possui, pela postura como docente, por saber dividir tão bem suas experiências engrandecendo as minhas. Minha mestra admirada aos quatro ventos, Nadja de Carvalho Lamas.
Este material estará sendo produzido no curso de Artes Visuais, na disciplina de INSTALAÇÃO oferecido pelo programa PARFOR, de capacitação para docentes, em parceira com a UNIVILLE (Universidade da região de Joinville), utilizando como sede a UNERJ (Universidade Regional de Jaraguá do Sul).
Para elucidar sobre a definição de Instalação, após explanação da professora, a mesma solicitou que produzíssemos nossa proposição sobre o assunto. Como gosto de brincar com as palavras, poetizei:
E AÍ? O QUE É?
Criação provocativa, conceitual.
Instiga sensações, perturba, pensa e faz pensar. Determina o tempo e o espaço, recria o tempo, cria no espaço, bagunça o tempo.
Sentimento de quero mais ou nunca mais quero ver.
Materiais diversos projetados, reinventados ou nunca antes criados.
Estética na composição, o registro do olhar, daquele que viu, sentiu o apelo sensorial, do belo, da provocação.
Registro de luz na foto, para aguçar a lembrança.
Registro no filme, vontade de rever.
O que provoca tanto, diz tanto, poucos entendem, muitos querem ver...
Instalação... ainda há o que aprender!
...QUE COMECE O SHOW...
A tarefa proposta é a de escolher, ler e interpretar uma poesia, em grupos. Em meu grupo ( Fábio Klement, Eliane Maciel, Eliane Baum – que me faz rir muiiito, Sidinéia Forster) optamos por Cora Coralina. Escolhi a poesia “ A lavadeira”, que segue como direção:
Cora Coralina: A lavadeira
Essa Mulher...
Tosca.Sentada. Alheada...
Braços cansados
Descansando nos joelhos...
olhar parado, vago,
perdida no seu mundo
de trouxas e espuma de sabão
- é a lavadeira.
Seu olhar distante,
parado no tempo.
À sua volta
- uma espumarada branca de sabão
Inda o dia vem longe
na casa de Deus Nosso Senhor
o primeiro varal de roupa
festeja o sol que vai subindo.
vestindo o quaradouro
de cores multicores
Essa mulher
tem quarentanos de lavadeira.
Doze filhos
crescidos e crescendo.
Viúva, naturalmente.
Tranqüila, exata, corajosa.
Temente dos castigos do céu.
Enrodilhada no seu mundo pobre.
Madrugadeira.
Salva a aurora.
Espera pelo sol.
Abre os portais do dia
entre trouxas e barrelas.
Sonha calada.
Enquanto a filharada cresce
trabalham suas mãos pesadas.
Seu mundo se resume
na vasca, no gramado.
No arame e prendedores.
Na tina d’água.
De noite – o ferro de engomar.
Vai lavando. Vai levando.
Levantando doze filhos
Crescendo devagar,
enrodilhada no seu mundo pobre,
dentro de uma espumarada
branca de sabão.
Às lavadeiras do Rio Vermelho
da minha terra,
faço deste pequeno poema meu altar de ofertas.
Cora Coralina – Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais
Editora Global
Após leitura e interpretação em conjunto, nos foi solicitado que sintetizássemos o poema em duas palavras. Deverás difícil, resumir Cora Coralina em duas palavras. No poema notei a simplicidade dos vocábulos que chegavam tão próximo de mim, poucas letras, em gritos de emoção, a necessidade de expressão. Foi assim que minhas palavras surgiram, NECESSIDADE de SIMPLICIDADE. Elas estavam ali o tempo todo, eu vi.
Fomos convidados a tomar distância do nosso projeto, a andar pela universidade e encontrar algo que pudesse dar conta de representar nossas palavras, com a ajuda de meus amigos, concebi uma imagem, um tanto quanto estereotipada, porém se já tenho consciência disto, é meio caminho andado.
Ainda em busca e em construção contínua, selecionamos letras e músicas que alcançassem nossos temas. Conheci Pato Fu, e a música Simplicidade. Melodia tranquila, letra simples, o que eu precisava, era o que eu queria. Eis a imagem e a música representativa das palavras NECESSIDADE de SIMPLICIDADE, seguida da letra.
Simplicidade - Pato Fu
Composição: John
Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia Mais mole a cama em que durmo
Mais duro o chão que eu piso
Tem água limpa na pia
Tem dente a mais no sorriso Busquei felicidade
Encontrei foi Maria
Ela, pinga e farinha
E eu sentindo alegria Café tá quente no fogo
Barriga não tá vazia
Quanto mais simplicidade
Melhor o nascer do dia
Quem pensa que um “trabalho artístico” não tem “trabalho”, se engana, aqui o paradigma cairá. A tarefa agora e aclarar as palavras que são cheias de significação, não perdi tempo, e como sempre, utilizei da catarse. Feliz o homem que se liga ao mundo, se perde no tempo e se encontra nas palavras.
NECESSIDADE DE SIMPLICIDADE
Déa Maffezzolli
Duas palavras simples, de uso até cotidiano, porém não paramos com a mesma frequência que as usamos para entendê-las. Necessidade de simplicidade, será que haverá quem deseje compreender o necessário.
Bem, na minha busca por compreensão e até amadurecimento do tema, cheguei a algumas descobertas, em relação ao necessário, este sentimento de obtermos aquilo que não possuímos a sensação de que falta alguma coisa útil a nós, investiguei os livros de filosofia e me deparei com o necessário na metafísica e perdi novamente a noção ao descobrir que necessidade é daquilo que é o caso em todos os mundos possíveis. No dicionário Aurélio a necessidade é amplamente explicada como aspiração natural e muitas vezes inconsciente.
Passei a Simplicidade ou frugalidade e descobri nela o significado maior, é a falta de artifícios, extravagâncias e excessos de toda ordem . Simplicidade é o caminho para se chegar à humildade, e com isso ser uma pessoa mais servil, menos arrogante e prepotente, combatendo e se livrando da inveja, orgulho e ciúmes.
Mas foi quando não procurava, por acaso, que esmiuçando O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de André Comte-Sponville, que encontrei o meu mote:
Ser simples não é fácil. A complicação é fartamente usada para esconder a pobreza de uma asserção. Está virtude também combate o narcisismo, pois requer o esquecimento de si, deste ego vaidoso, que interfere e torna qualquer coisa nebulosa e complicada [...].
É isso, o recado só é entendido por quem possui simplicidade, a ironia presente não é por acaso, é determinismo, e este fruirá em arte.
Dividimos nossas músicas e nossos textos com o grupo, e com a professora. Uma sensação gostosa no ar, os poemas de autores dessemelhantes, músicas e textos diferentes, palavras soltas e distintas, mas sentimentos idênticos. A sala foi invadida pelo que chamaria de retorno ao movimento hippie. Além de paz e amor, fomos tomados de uma súbita consciência de vivência, princípios e um saudosismo caricato.
Diante da cena, foi nos solicitado que no nosso próximo encontro, que seria no dia seguinte, trouxéssemos objetos que representassem a amarração feita entre os poemas, palavras, imagens e músicas. Poderia ser algo encontrado em casa ou na rua.
Naquela noite, fomos espairecer numa pizzaria da cidade, meu grupo de trabalho mais a professora, e em meio a pizzas e vinho, gosto mais do vinho, tinto, doce e de uvas cabernet, em meio a histórias e muitas rizadas, depois de uma leve tonteira e um relaxamento muscular, ocorreu-me o objeto, teria que ser uma taça. Porém no outro dia, além da taça, que nem de vinho era, senti a necessidade de outro objeto, uma caneca esmaltada, que lembraria minha infância, minha nona, a simplicidade de uma vida que não volta, e aquela sensação de como eu era feliz... O resto já sabemos.
Não tinha a caneca em casa, então eu e Fábio, fomos a uma dessas lojas de preço bem popular e ela estava lá.
Já no curso ao falar do objeto, em principio fui tomada de risos pela taça ao lembrar a noite anterior e de lágrimas, por lembrar meu nono. Italiano bravo, de cachimbo e cajado, não gostava de barulho, de ninguém ao redor, mas eu chegava a seu coração lascando um beijo em seu rosto e correndo pra não ser pega. Lembrei-me de minha nona, da mesa farta de comida e gente, que esvazio assim que ela partiu. Já a família, também dá a impressão que diluiu, não é a mesma coisa sem a matriarca, cada filho agora e chefe de sua própria família. Lembranças minhas, repartidas com os demais, história que se juntam , se completam , só muda os lugares, o nome das pessoas.
Agora junto mais uma palavra, as que já tinham antes. A palavra SER, pois ao lembrar da caneca que era minha família, lembrei da taça que já fui, cheia de aparência. “ quero ser caneca” disse, sem esperar ser entendida.
Na busca por enriquecer, nossa caminhada, nossa mestra solicitou que lêssemos o conto A Terceira Margem do Rio de Guimarães Rosa, e fizéssemos uma ponte com nossa construção até então, bem como com nossas palavras.
A Terceira Margem do Rio -Guimarães Rosa
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32,.
É claro que fiz uma crônica sobre este conto, mas não vou dividir este doce com vocês agora, como diz meu filho, “deixa quieto”, por enquanto. Quando a professora terminar a tarefa de interpretação com a classe, então provaremos o doce juntos. Sim, pois cada vez que alguém lê meu texto eu leio junto, aliás, narrando ao pé do ouvido do leitor.
A terceira margem traz no texto a simplicidade complexa que busco em minha instalação. E nos momentos de calmaria de minha vida agitada, não faço outra coisa a não ser procurar os elementos corretos para minha construção. Já pensei em colocar carroças brancas, verdadeiros “elefantes” no estacionamento da Universidade. Logo, não posso esquecer que é um trabalho acadêmico, e não devo queimar etapas. Sintetizei as carroças e transformei-as em latas de lixo. Andei pelo corredor e imaginei um sofá branco no seu final, convidativo com plaquinha de não sente. Fotografei os vários espaços que poderão ser meus espaços de exposição e cheguei a algumas conclusões.
Curiosos? Não fiquem... A proposta é dividir meu processo criativo, e farei isso, até a exposição final, seja com louvor e aplausos, ou rejeição total.
Pensei em vários espaços para montar a instalação. Fiquei atraída pelo caminho que faço sempre que chego à universidade. Do estacionamento para o grande corredor.
Escolhi esses lugares como fundo para o que nascerá. Sem ter muita certeza ainda do que quero conceber, ideias não faltam, minha maior dificuldade no momento é financeira.
Gosto de brincar com as palavras já escrevi isso neste blog várias vezes, faço então das palavras meu tema criador. Imagino um texto meu, colado ao chão, pelo caminho que percorro. Reduzo o texto a palavras soltas. Sinto falta de uma finalização. Mas porque sempre temos que finalizar um trabalho? Boa pergunta, parece que tudo sempre tem que ter um ponto final. Pra que?
Deixo em aberto, assim como nascem às perguntas, as respostas também surgiram. Já que não consigo escrever sob pressão, pois tenho que ter meu tempo criativo. Então, eis os espaços pensados.
Hoje fui fundo (11/03), por vezes me assusto.
Quando busquei textualizar o meu tema “necessidade de simplicidade”, após todas as leituras, fotos, projetos, agregando a tudo a palavra “ser”, me dei conta da real complexidade. Ser e viver com simplicidade vai além do que havia pensado até então, assim nasceu um texto. Palavras soltas, que me prendem, e elucidam:
Tudo o que fazemos, do fácil ao quase impossível, sacrifícios ou não, tem relação com nossa Busca constante , a busca maior da vida humana, a felicidade. Nesta busca, passamos por cima de muitos , as vezes de nós , do que queremos, do que acreditamos. Se há tristeza ao final da jornada, não é por precisar do perdão de alguém. Preciso perdoar-me. Jogo nos outros todas as culpas , culpas criadas por minhas escolhas. Não consigo, não entendo, estou de Olhos vendados, para a realidade. Sou responsável pelo que me tornei. Prazer imediato, frustração longa. Quantos corpos, procurando existir em outros, Não procure , está dentro de você, consciência. Inconsciente . Não fuja, nada irá resolver. Quando retornar tudo ainda vai estar assim. Não se foge de si mesmo. Impossível mascarar eternamente o que se é.Prevaleça a essência, não a existência. A existência grita mais alto, pode-se ouvi-la todos os dias. Você tem certeza que precisa de tudo isso, é necessário tão pouco para ser feliz. E só dura uns instantes, feche os olhos, sinta, envolva-se de sorrisos seus!Afinal, Quem é você? não te reconheço, não me reconheço, Sua face, tua voz, teu jeito, nada. Minha razão insiste, quem sou? Sou o que quero ser, Sou o que os outros querem...Mentir pra fugir...Quero mais, muito mais do que tenho...Não sei se sou feliz...Aparento ser feliz...O que é felicidade?Fujo... Meu maior desafeto sou eu...Quer abraçar o mundo...Não toma conta da sua própria vida...Se pensa não fala...Se fala, soa vazio...Não quer magoar ninguém...Magoa-se...Não és o que veem...És mais...És menos...quem És? Não olhe, veja...Não se assuste, se constatar que não existe...És sombra...se acha especial, Único... não há ninguém igual...Dói...E não há tanto tempo assim...Tem que ser agora, já ... Permita-se... e seja verdadeiramente feliz!
Para ter simplicidade, é necessário encontrar a essência.
Não há fórmulas secretas, nem terapias que façam alguém entender o que é. Apenas se É. O que é certo pra alguns, não o é para outros. Existem maneiras de viver, sentir. Entendo, após tudo, que pra traduzir simplicidade num trabalho artístico, devo ir além, devo ir ao encontro das questões que circundam os seres humanos desde sua consciente razão. E desta forma, apresentar o que sabemos inconscientemente e ainda assim procuramos desesperados, por não entendermos que o segredo está em nós.
14.03.2011
Pesquisa de Conceitos
Tomarei comobase conceitual os trabalhos de Bárbara Kruger, nascida em 26 de janeiro de 1945, em Newark, New Jersey.
Fotógrafa e artista norte-americana, Barbara Kruger frequentou a Escola de Artes Visuais da Universidade de Syracuse e estudou Arte e Design na Parson's School of Design.
Nos seus primeiros anos de carreira, foi designer gráfica e diretora de arte na revista Mademoiselle, experiência que viria posteriormente a influenciar o seu trabalho artístico.
Não se pode considerar que Barbara Kruger tenha contribuído para a história da fotografia, dado que os seus trabalhos não se destacaram em termos fotográficos. Kruger limitou se a escolher a fotografia para veicular a sua mensagem artística, analisando nas suas imagens as representações do poder nos media.
A maioria dos seus trabalhos questionam o espectador sobre questões como o consumismo, o feminismo, o desejo e a individualidade. Ironicamente, muitas destas fotografias que questionam estes ideais são publicadas em revistas, que tentam veicular e vender estes mesmos valores.
Combinando imagens e textos referentes a representações culturais de poder, identidade e sexualidade, o trabalho de Barbara Kruger desafia, assim, os estereótipos sociais vigentes.
Os trabalhos fotográficos de Kruger encontram-se um pouco por toda a parte, em museus a galerias, posters e painéis publicitários ou até mesmo em t shirts. Kruger lecionou no Instituto de Arte da Califórnia, no Instituto de Arte de Chicago e na Universidade da Califórnia. Vive em Nova Iorque e em Los Angeles.
Como referenciar este artigo: Barbara Kruger. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011 [Consult. 2011-03-14].Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$barbara-kruger>.
25/03
Cresceu a ideia de um texto colado ao chão. Sintetizei o texto em frases soltas. Rabisquei os esboços e parto novamente para a reflexão. Utilizando o grande corredor que dá para uma escadaria na Unerj, concebo no alto da escada um buraco colado ao chão, e dele começa a sair palavras que percorrem o grande corredor, não numa ordem coerente, apenas frases soltas. Um buraco? Sim, um buraco representativo do nosso subconsciente, onde brotam desconexas as mais variadas lembranças e sentimentos. Pelo vazio que se sente, tantas questões e tão poucas respostas ou por acharmos que já sabemos tudo, daí nem digo mais nada.
Ao invés de um buraco negro (Rssss), quem sabe um desenho vazado de uma caneca, já que “eu quero ser caneca”, uma metáfora, dela saindo às palavras, que formaram um conjunto de frases que já foram pensadas por muitos em muitos momentos.
Ou ainda, uma porta. Perdida em pensamentos, olhando pela janela do ônibus, vi material de desmanche, era uma casa. Mas já foi uma que abrigou coisas, pessoas, muitas histórias. Olhei rapidamente para a porta, passagem para algum lugar, pra dentro ou pra fora, de chegada ou de saída. Imaginei esta porta colocada no alto da escadaria, de modo que pode ser aberta para ser utilizada como passagem, e não vamos esquecer o texto colado à porta, um texto reduzido, apenas as passagens mais ardidas.
E agora?
(...)
01/04
Muito bem, mandei os projetos para a professora e ela me lembrou de uma ideia que tive logo no inicio dos trabalhos. Colocar meus textos em adesivos refletivos no estacionamento da universidade. Mais precisamente na base que divide uma vaga de estacionamento da outra. Uma base branca, de cimento, que suportaria sem dificuldades a colagem.
Sem demora, fui à busca dos adesivos. Dei-me conta, porém, que neste local o texto que criei, e pensei transformar em colagem, não caberia, o conceito se perderia. Então, ao ler e reler o texto, o transformei em questionário, onde cada pergunta se acomodaria em uma base, as questões seguem:
ÉS VERDADEIRAMENTE FELIZ?
MAGOOU ALGUÉM?
PEDIU PERDÃO HOJE?
PERDOOU-SE?
ESTÁ TRISTE?
ESCONDENDO A TRISTEZA POR QUÊ?
ESTÁ FINGINDO?
FALA A VERDADE SEMPRE?
CULPA OS OUTROS?
SENTE-SE CULPADO?
NÃO ENTENDE?
NÃO QUER ENTENDER?
NÃO CONSEGUE ENTENDER?
TUDO ESTA NA SUA FRENTE!
NÃO VÊ PORQUE NÃO QUER!
PRAZER IMEDIATO, FRUSTRAÇÃO LONGA!
SEJA! NÃO EXISTA EM OUTRO!
NÃO FUJA!
ENCARE SUA VIDA!
ENCARE QUEM ÉS!
ESSÊNCIA OU EXISTÊNCIA?
DO QUE PRECISAS?
QUEM É VOCÊ?
CONHE-CE-TE?
ÉS O QUE QUER?
ÉS O QUE QUEREM QUE SEJA?
MENTIR PRA FUGIR...
QUERO MAIS, MUITO MAIS DO QUE TENHO...
NÃO SEI SE ÉS FELIZ...
O QUE É FELICIDADE?
QUER ABRAÇAR O MUNDO...
TOMA CONTA DA SUA PRÓPRIA VIDA...
SE PENSA, NÃO FALA...
SE FALA, SOA VAZIO...
NÃO QUER MAGOAR NINGUÉM...
MAGOA-SE...
NÃO ÉS O QUE VEEM...ÉS MAIS...ÉS MENOS...
NÃO OLHE, VEJA...
NÃO SE ASSUSTE, SE CONSTATAR QUE NÃO EXISTE...
ÉS SOMBRA...
SE ACHA ESPECIAL, ÚNICO...
NÃO HÁ NINGUÉM IGUAL!
PERMITA-SE...
SEJA VERDADEIRAMENTE FELIZ!
Tratei de fazer orçamentos, contratar serviços.
Percebi que essas criações, já não me satisfazem mais. Tento imaginá-las e a satisfação não aparece. Vontade de síntese. Porque não, ao invés de tantas questões, tantas palavras, apenas pontos de interrogação. Ao invés de um texto catártico, algumas reticências abraçadas por parênteses? O desejo cresce, mas só fica no desejar.
Vou ao encontro dos adesivos, eles não estão prontos. O desespero aparece, estou sem chão. Já havia me programado com antecedência, para que não acontecesse nenhum imprevisto, mas eles gostam de aparecer, por isso do nome deles. Consigo indicação de uma outra empresa do ramo, porém não conseguiriam em tempo hábil. Os mesmos me indicam outro local, estes fariam o recorte manual, dificílimo à conclusão. Mas uma sugestão e o resto da tarde tentando contato. E nada...
Fui até a padaria, comprei um bolo, cheio de chantilly com morangos e amendoim, e soltei todas as minhas frustrações.
Para minha surpresa, ao chegar à universidade a professora nos relata da impossibilidade de montarmos a instalação neste dia, vários argumentos são postos a prova, e depois de ligações e pensar ficou decidido que instalaremos no próximo dia 09/04 na Univille.
Podemos tirar proveito destas situações e levá-las para o âmbito escolar. Muitas vezes há o planejamento, a organização e mesmo assim o trabalho final não chega nem perto do que havíamos pensado, tanto pra mais, quanto pra menos. Se dependermos de outras pessoas as possibilidades de surpresas negativas aumentam. Tudo faz parte do processo, e as coisas acabam se encaminhando da exata forma que deveriam ser.
Apesar das circunstâncias, há o lado positivo. Retomamos o texto de Guimarães Rosa, desta vez com uma interpretação mais guiada. Novamente houve muitas interpretações de acordo com o grau de experiência. Mas dois momentos me alegraram. Os olhos brilhantes da colega Jeniffer, citados pela professora e o comentário do colega Carlos, próximo do mistério... Sim tem mais, tenho muito mais pra repartir... Tenho ainda a crônica sobre a “Terceira Margem do Rio", lembram? Tem gente que lembra e tá alucinado pra ler a resposta. (Rsss)
04/04
MISTÉRIO DESVELADO, SERÁ?
Uma semana pra adequar o projeto ou mudá-lo para o novo ambiente. Nem tenho fotos pra postar e mostrar onde poderá ser meu novo espaço. Na verdade, vou elaborar e ao chegar lá, farei uma breve análise de onde ele pode se encaixar. Só sei que tem que ser um corredor grande. Estou satisfeita com que criei e estou criando? Não! Quero mais... Quero sentir aquele prazer que sinto quando termino uma coreografia e vejo a apresentação para o grande público. É uma sensação incrível. Uma emoção que invade o corpo, lágrimas brotam, impressão de realização plena, felicidade que lateja. Se perceber alguém admirando o trabalho, me elevo. Idéias nunca me faltam, uma chega a comer a outra.
Voltando a Terceira Margem, que espetacular foi essa espera.
Muitos dos colegas que fazem o curso comigo, demonstraram um interesse invejável por decifrar o que alguns achavam indecifrável. Outros “chutavam” respostas e frases tentando acertar a interpretação como num jogo em que os atletas estariam fora de forma. Uns permaneceram calados, observando todo o tempo, e assim elaborando sua própria interpretação. O segredo é que não há segredo.
Cada qual pode ordenar uma interpretação de acordo com suas vivencia, a leitura que se tem de vida. Um sociólogo irá trabalhar a questão social, a sociedade a beira da margem julgando e querendo que o ser desgarrado continue a fazer parte do pensamento da massa, que continue a viver e a pensar de acordo com os padrões sociais, aqui já dá pra fazer muitas mangas com este pano.
Meu colega Carlos, já citado acima, fez uma interpretação incrível, colocando o pai que está no barco, ao nível da arte. Sendo que a arte, muitas vezes não é entendida mesmo, os artistas são sim taxados como loucos, e muitos não se revelam por medo de uma sociedade preconceituosa e de ser excluído dos meios sociais. Há que ter coragem para romper. Serenidade e clareza do que se quer. E não pode ser da boca pra fora como alguns fazem. “Sou assim e quem quiser que me agüente não me importo com que os outros dizem”, tem que haver verdade, e está só se demonstra com atitude.
Pra quem lê de verdade este blog, deve ter percebido que levei todo o meu projeto de instalação para o lado do inconsciente. Pois bem, é isso. Minha interpretação do texto de Guimarães Rosa segue este meio. O tema central do texto é a loucura. Mas releio-a como subconsciente. Não tenho como escrever sobre Lacan, esse eu não domino. Mais Freud sim, esse faz parte da minha vida já algum tempo. Trago Freud para a Terceira Margem e de forma catártica, revelo meu subconsciente em textos e frases que fazem parte da minha interpretação sobre o texto.
Aliás, o texto é atemporal, metafísico e segue minha linha de raciocínio utilizando a catarse, a diferença que o texto de Guimarães é regional. Vamos esmiuçar o texto, e transformar a crônica que prometi numa análise.
Quando em meu texto digo “Tudo o que fazemos do fácil ao impossível, sacrifícios ou não, tem relação com nossa busca constante, a busca maior da vida humana, a felicidade. Nesta busca, passamos por cima de muitos , as vezes de nós , do que queremos, do que acreditamos”, falo diretamente do momento em que o pai rompe com a família, com a sociedade, e busca mesmo diante de julgamentos seus desejos e aspirações. Muitas vezes em nossas vidas temos o desejo de romper, falta-nos coragem. O impulso inicial para uma vida nova. Pensamos em tudo o que podem e vão dizer, não pensamos na figura principal, nós.
Na passagem “Se há tristeza ao final da jornada, não é por precisar do perdão de alguém. Preciso perdoar-me. Jogo nos outros todas as culpas, culpas criadas por minhas escolhas”, faço relação com os sentimentos do filho, parado a margem, sem coragem de prosseguir o caminho do pai, sem vontade de seguir o caminho da sociedade. Sem cair em conselhos baratos, ou lições de moral, mesmo porque, quando esta situação acontece é inconsciente. É muito fácil achar culpados pela minha frustração do que admitir que falhei. Muitos não fazem intencionalmente. É proteção ou covardia em admitir que falta a si seiva, a seiva rara do desprendimento e originalidade.
“Não consigo, não entendo, estou de Olhos vendados, para a realidade. Sou responsável pelo que me tornei.” O filho se sente assim em algumas passagens, um não querer entender, um não ver, vejo, mas não entendo, não quero entender. Cito ainda Guimarães no trecho “Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo”(...). Quantos ainda passaram pelo mundo e antes mesmo de sair dele sentirão o vazio de não ter vivido. De não ter tido audácia em ser.
“Quantos corpos, procurando existir em outros, Não procure , está dentro de você, consciência. Inconsciente”. É o que eu escrevi, já Guimarães sussurra, sim sussurra e não para a vontade de ouvir. “Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha...” Quando a coragem nos falta, de romper e ser, tentamos existir em outros. Quantos pais buscam se realizar nos filhos, muitos não deixam os mesmos ter vida. A inveja também é farelo da não existência. Critico no outro o que não consigo assumir em mim.
Já quando parto para questionamentos isolados (ver texto acima em tom verde), acordo no leitor observador, respostas adormecidas pela comodidade do tempo.
Não conhecia o texto “A Terceira Margem do Rio”, mas estou na terceira margem faz tempo. Num fluxo de idéias que me devoram; pura construção.
09/04 - O DIA TÃO TÃO ESPERADO
Banner na estrada da exposição
TEXTO DE ENTRADA
A TERCEIRA MARGEM
O curso de artes visuais, oferecido pelo programa PARFOR, em parceria com a UNIVILLE, com realização na UNERJ (Jaraguá do Sul), reúne hoje, numa exposição de trabalhos artísticos, na linguagem da Instalação, alunos que são também professores.
O grupo chega à conclusão deste projeto, ainda caminhando, sempre a procura do fluxo criativo, que a partir da disciplina de instalação, fará parte na construção artística e docente destes.
Durante a cadeira, foram instigados na construção, partindo da leitura de poemas, destes escolhendo palavras chaves que desencadeariam em um texto, na procura de uma imagem e de uma música que as representasse. A reflexão é peça chave na viandada. Sem demora, foi nos apresentado o que faria com que nossos sentidos fossem aguçados, adelgaçando também nossa curiosidade... A Terceira Margem do Rio de Guimarães Rosa.
Partimos de uma leitura e interpretação individual, e não sendo surpresa várias releituras foram feitas, sempre de acordo com as vivências de cada um. Momentos especiais vividos de descoberta e encanto. Sempre conduzidos ao pensamento reflexivo. Em paralelo, iam sendo construídos esboços do que poderia se tornar o trabalho artístico final, e foram tantas ideias e rabiscos, perdemo-nos em pensar e encontramo-nos na realização.
Abre-see estende-se o olhar, não somente no sentido do produto final, mas no da criação, os projetos de então abrem precedentes para novas criações que poderão acontecer em outros momentos de uma vida artística.
Exposto assim, o inicio de uma caminhada criativa, instiga-se no expectador deleite reflexivo.
REGISTRO FOTOGRÁFICO
"Quem és, questo qo"
8 metros
MEU ESPAÇO ...
... É AQUI!
Aqui, uma geral da minha instalação...
...recebi ajuda...
... saiu de lá e foi pela universidade adentro...
... e parou em locais questionáveis...
INSTALAÇÃO DE ALGUNS AMIGOS
Instalação de Eliane Maciel
Detalhe.
Instalação da Sidinéia Fosters
... os pés terminam nesta grande foto.
Instalação de Fábio Klement
Vista frontal.
Instalação de Sirene
Detalhe
Instalação de Jennifer
Instalação de Lisangela
Detalhe.
POR FIM...
trabalho, recompensa!
MAIS FOTOS SERÃO POSTADAS, ALGUMAS CIDADES ESTÃO SENDO CONTAMINADAS POR PONTOS DE INTERROGAÇÃO MISTERIOSOS, ATÉ LOGO.