De repente eu e minha
família, estávamos fazendo parte de uma comunidade apesar de eu não compreende
bem o que se passava ali. Eu, meu esposo, meu filho caçula muito amado, e uma
garota que identifiquei como sendo nossa filha adotiva.
Vamos
conhecer o ambiente, percebo que há uma divisão clara de espaços, o que podemos
e o que não podemos usar, onde podemos, e onde jamais deveremos pisar. Sinto-me
apreensiva, com receio beirando a medo.
Vejo
um campo de futebol cercado, ambiente muito cinza, parece que não chega à
luminosidade natural do dia, observamos ali, uma criança jogando sozinha. Ensaiando
o que seria um gol, percebo também que há uma trilha na saída desta quadra para
outro setor, recebo orientação para somente andar nesta trilha sempre,
poderemos ser agredidos se ultrapassarmos o limite.
Não consigo entender este lugar, ao mesmo
tempo que a ansiedade bate por ficar ali, fazer parte de algo novo, o receio
cresce, pelo desconhecido.
Saímos
do ambiente quadra e nos deslocamos pelo caminho trilhado. Sempre em diálogos e
conversa, para que possamos compreender o funcionamento do local, não é uma
instituição religiosa, isso já percebi. Também não consigo identificar como um
clube, então começo a sugerir atividades, na expectativa de que aquele local
fique mais colorido, atividades artísticas quem sabe, eu cuido da parte de
criação, meu esposo com habilidades em teatro, alimentaria o potencial criativo
dos habitantes daquele lugar.
E conforme as idéias iam
surgindo, os sorrisos amarelos em torno do planejamento também cresciam. Mas houve
aceitação, não sei se de todo ou de parte.
Foi aí que algo
chamou muita a atenção.
Quatro
carros incendiados com pessoas carbonizadas dentro. Parecia que estavam saindo
e foram pegas no momento do escape. Não queria ver aquela cena, também não
queria que meus filhos olhassem pra tudo aquilo, questionei o ocorrido, e
principalmente, porque estava ali exposto de forma a todos verem, como um troféu,
eu não compreendia isso tudo não fazia parte de minha realidade.
Nossa
atenção foi chamada, para um grupo que estava saindo para uma reunião de famílias.
Chamaram um casal representante do “nosso lado”. "Nosso lado", indaguei.
Aqui nós temos lados, observo que as pessoas que estavam saindo, tinha boa aparência,
bem vestidos limpos, carros confortáveis. Avisto de longe uma amiga querida,
que a muito frequenta minha casa, aceno de longe com saudade e carinho, ela viu
e fez questão de não me reconhecer em meio aos “outros”.
Um
casal é escolhido para representar a família e todos partem. Neste momento
observo que no ambiente em que me encontro as pessoas, são mais pálidas,
parecem doentes, mal trapinhas face de terror e medo. Sinto mais vontade ainda
de ficar ali e ajudar. Parece que estou no local certo. Não visualizo mais os
carros queimados, no local agora somente um gramado verde, poucas flores e
sombra. Estranho, muito estranho.
Sou
alertada, a não usar mais meu vestido, em tom floral, com fundo amarelo, muito
elegante para o local, se lá estou terei que usar as roupas de costume.
Todos convidados pra
a primeira refeição juntos. Sentamos a mesa, com expectativa grandiosa, meus
filhos juntos, meu esposo também, a comida assusta um arroz moído com molho de
osso, senti dificuldade em engolir, meu filho principalmente. Foi neste momento
que tive a ideia de criarmos também uma horta para que pudéssemos variar o
cardápio, novamente o sorriso amarelo, não entendo isso.
Do
nada, passa um jovem de semblante acinzentado, sem nada a dizer, passa a olhar
os pratos e o quanto se estava comendo, e ele parou diante de meu filho. Questionou
o porquê que o menino não comia. Disse que ele tinha dificuldade com o sabor,
em engolir a comida. Ele se exaltou, gritou muito e fez menção de agredir meu
menino, colocou cascas de pão em sua boca, quase o afogando. Levantei-me,
gritei ainda mais alto, ajudei o menino a se recompor, o jovem cinza com mais
raiva foi contido pelos demais, mas eu sabia que não tinha parado aí...
Agora entendo, fomos divididos. Comemos os
restos, somos agredidos, pelo puro prazer. Existimos apenas para servir,
ninguém quer mudar esta situação, o conformismo de todos é assustador, se
plantamos eles destroem, se vestimos, eles rasgam, se criamos, somos
castigados, para comer o resto de tudo, para vestir o pano que antes foi limpo
o chão, nada de sorrisos, nada de ideia, nada de nada... Estou numa comunidade
alternativa.
Madrugada do dia 13/05/2013
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