domingo, 6 de novembro de 2011

CERÂMICA


"O primeiro artesão foi Deus que, depois de criar o mundo, pegou o barro e fez Adão."
(ditado popular paraibano)

PRIMEIRO CONTATO  

                        No primeiro contato com a argila, fica um misto de dúvida, medo de errar, ansiedade pelo que se vai fazer. Incerteza do que se fez. Sentimentos estranhos pelo contato com algo totalmente novo.
                        Sempre que entrarmos em contato com algo que não conhecemos, em terreno em que não nos sentimos seguros, esses e outros sentimentos podem vir à tona. É natural, há sempre um estranhamento diante do conhecimento. E com cerâmica não foi diferente.
             A proposta era até simples, figurar a argila com algo do nosso dia a dia. Logo me lembrei das aulas de filosofia e do quanto os alunos se divertem como os nossos debates, então, tentei sem muito sucesso, fazer uma mesa, uma cadeira, alguém sentado nela, e pior, com um martelinho na mão, que insistia em cair.
                         Durante a realização da atividade, senti muito prazer e um misto de alegrias. O boneco ficou esteticamente feio, com acabamento duvidoso, tanto que ao secar, ele perdeu os dois braços, as duas pernas, uma perna da cadeira e o martelo, não tenho nem noção de ode foi parar.                       
                        Mas foi o primeiro contato, a primeira paixão, o momento de admiração pelo estilo de arte que se abre de cara diferente perante meu leigo ser.


"Os cacos da vida, colados,
formam uma estranha xícara,
sem uso,
ela nos espia do aparador”

 (Carlos Drummond de Andrade).



PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS

                   Réguinhas feitas com argila, uma experiência para verificarmos se depois da queima, a régua mudaria seu tamanho. Mudou sim. Ela tinha 5 centímetros e após retornou com aproximadamente 4,5 centímetros. 


                          Uma segunda experiência realizada foi a de colocarmos bolinhas feitas de argila, acomodadas em pacotes bem fechados. Pelo mesmo tempo em que a réguinhas permaneceu. Como as bolinhas ficaram acondicionadas no plástico elas permaneceram úmidas, não acontecendo nem a secagem nem a redução.

                        Aqui um dos meus inúmeros biscoitos, como não demonstrei nenhum talento em figurar a argila, nestes primeiros contatos, optei por fazer biscoitos com ajuda de um molde normalmente usado em biscoitos de natal. E foram estrelas, bolas e corações. Valeu como experiência e contato. Como conhecimento do material novo.



ESCULPIR NOSSOS SENTIMENTOS
                       Mais uma bela experiência proposta pela nossa professora. Fazer algo que lembre nossos sentimentos, emoções, desejos, anseios, enfim, esculpir nossas sensibilidades.  
                        Tive uma dificuldade, a princípio em escolher qual tema eu iria desenvolver. Fui amassando a argila, sem muito pensar, soltando a energia. Foram vários pedaços jogados fora.
                        Sou muito reservada na minha vida pessoal e familiar, quando tenho intimidade e confiança, me solto. Tenho que sentir o terreno seguro para pisar com confiança.
                        Mas no campo profissional, é diferente, não escondo de ninguém meus anseios, o quanto estudo e me esforço para atingir meus objetivos. Desta forma, criei uma montanha, tortuosa, com grande pico, vincada, demonstrando o tanto que ainda tenho que percorrer, me identifico com a bola, cheia de marcas de uma vida de escolhas erradas, marcas que não irão sair de mim, mas que mantém forte na expectativa da vitória, como bola, estou em cima de uma base, feita de rolinhos, demostrando que já tenho conceitos, pensamento crítico reflexivo, e bagagem pra alcançar meus objetivos.
                        Fiquei satisfeita com o trabalho, de modo que escolhi este para observar, na primeira imagem, ainda feita da Unerj, podemos ver até o brilho da argila de tão fresca, no momento em que a atividade estava sendo realizada.

                             Na segunda figura, já em casa, após uma semana, podemos observar a opacidade, a mudança de cor, e uma leve inclinação da figura.

 
                            Na terceira imagem, de quinze dias, podemos notar uma mudança considerável na cor, e a diminuição do tamanho da figura, sendo que a inclinação também aparece mais forte.


Acabamento:


 
MOMENTO MARCANTE

                        Momento diferente foi à dinâmica que realizamos.
Orientados pela professora, com um bom tanto de argila nas mão, começamos a amassar formando bola, beliscar por alguns momentos, beliscar sentindo nossa musculatura, tirar pedaços.
Após longo tempo realizando a atividade, a professora nos instrui a fechar os olhos, e iniciar a construção de um boneco. Momento mágico, ficar olhos fechados, articulando a argila e construindo um boneco partindo de nossa imaginação.

Quando estava com os olhos fechados, imaginei que estava criando uma forma completamente diferente da que vi quando pude abrir os olhos.
A figura que imaginei, tinha proporção, ficava de pé. A que criei estava com a cabeça desproporcional ao corpo e caia sempre que eu tentava coloca-la de pé.
Fiquei angustiada e preocupada ao mesmo tempo quando percebi o tamanho do cabeção da figura. Como eu sabia que o boneco era eu, minha preocupação aumentou.

Após conversar com a professora, tudo ficou mais claro, eu normalmente estou dando mais valor e atenção para o meu lado intelectual e esqueço ou não valorizo minhas outras aptidões.
Coincidentemente, na semana após a atividade, fui parar no hospital com cansaço mental, pelo excesso de atividades que vinha realizando. A atividade pra mim serviu em vários âmbitos, desde a atividade em si, como nova experiência e possibilidade de trabalho, como serviu de alerta para o que realmente interessa. Resolvi dar uma pausa em algumas atividades. Cuidar um pouco mais da saúde mental.
Agradeço a professora por isso. 

MÁSCARAS E TÓTENS
                       Aqui eu deslanchei. Não sei o que aconteceu, mas quando a proposta foi lançada de imediato sabia o que eu ia realizar.

                       Deveríamos construir uma máscara tridimensional, logo pensei na comédia Del Arte, e no grande nariz fálico que chama a atenção de qualquer um, leigo ou estudioso do teatro.
                     Coloquei a mão na massa, puxei, estiquei, amassei como se fosse uma massa de pão. E comecei a modelar os dois lados, a tragédia, com seu nariz grande e caído, e a comédia com seu grande nariz soberbamente erguido.
                    Senti muita facilidade em realizar esta atividade, foi a que eu estava mais a vontade. Coloquei sob orientação da professora estes rolinhos de pano, como mostra a foto, para que o nariz, não caísse, a peça não desmoronasse.

                     Notem como ficou diferente a peça depois de queimada, até a cor modificou, o tamanho então. Lembro que quando a professora me entregou, além do entusiasmo senti um estranhamento em relação ao tamanho. Há uma mudança considerável antes e após a queima.
                    Passei uma base branca de tinta guache por toda a peça, deixei secar por uns vinte minutos, a tinta seca muito rápido, o que facilita a realização do trabalho. Meu desejo era o de fazer a máscara semelhante a uma que usei em 2005, quando fiz a peça Blumenval, na Furb em Blumenau. Era uma peça de comedia Del arte, a peça que me inspirou a realizar está máscara. Porem, não encontrei nenhuma foto que pudesse me orientar na pintura. Então deixei a imaginação fluir e este é o resultado obtido.
Agradou-me deveras. Vai ficar guardado num espaço especial da sala, lembrança de um momento de catarse.Tive que dar um colorido especial, máscaras devem ser alegres e nos trazer sensações positivas, espero ter conseguido passar o que imaginei.
Neste dia, tivemos vários momentos especiais, desde a visita que fizemos a uma loja de produtos do artesanato brasileiro, até a visita feita por um oleiro. Na foto, podemos observar o momento que ele prepara a minha peça. 
O objetivo é trabalhar em cima de tótens, só que com o andar das atividades, muitos vasos ornados foram aparecendo. Não tive dúvidas em relação ao trabalho que iria desenvolver. Imaginei uma luminária, com velas coloridas dentro, cores saindo por buracos de todos os tamanhos e coloquei a mão na massa.

               Não senti nenhuma dificuldade em realizar a atividade, talvez um pouco de medo no momento de fazer os buracos, para não apertar demais e acabar estragando a peça.
               Conforme o medo ia sumindo, a criatividade chegava. Medi os buracos de modo a ficarem simétricos. Imaginei fios de alumínio passando por eles, e enquanto realizava, imaginava, a cor e onde eu iria colocar depois de pronto. 
                          Abaixo podemos observar a peça depois de ter passado pelo forno.
 
"A argila fundamental de nossa obra é a juventude. Nela depositamos todas as nossas esperanças e a preparamos para receber idéias para moldar nosso futuro."


Frase de Che Guevara





 


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